Como proteger sua lavoura da lagarta-rosca

Lagarta-rosca: como combater essa praga que tem sido problema no período inicial de diversas culturas

Toda praga agrícola é motivo de preocupação, mas existem aquelas que pareciam inofensivas e passam a causar mais dor de cabeça. 

É o caso da lagarta-rosca, que tem afetado diversas culturas de maneira significativa. 

A praga ataca no período inicial e, por isso, pode comprometer todo o desenvolvimento das lavouras.

Para saber como controlar, você deve conhecer as características e comportamentos dessa lagarta. Confira neste artigo os principais aspectos e formas de controle da lagarta-rosca. 

Características da lagarta-rosca

Existe um complexo de lagartas da ordem Lepidoptera que tem por nome comum “lagarta-rosca” pelo fato de se encurvarem ao se sentirem ameaçadas ou quando estão em repouso. 

Entretanto, dentre as várias espécies existentes, Agrotis ipsilon é a principal causadora de danos em diversas culturas por ser polífaga

Ela tem causado uma tensão maior aos produtores de culturas como feijão, algodão, milho e soja

É da família Noctuidae e tem hábitos noturnos. Durante o dia, as lagartas permanecem sob uma pequena profundidade do solo e, durante a noite, atacam as plantas. 

As lagartas têm coloração marrom, podendo também variar para o cinza, com linhas ao longo do corpo e tubérculos nos segmentos. Nos últimos ínstares, podem chegar a 50 mm de comprimento. 

Após o período larval, a pupa é formada e se aloja no solo para desenvolvimento do adulto.

O adulto é uma mariposa de coloração variável, sendo as asas anteriores marrom ou cinza e as posteriores mais claras. A envergadura vai de 35 mm a 50 mm e comprimento de 20 mm. 

A fêmea pode colocar cerca de 1.000 ovos, podendo ser depositados sobre folhas, hastes ou também no solo. 

O ciclo biológico dessa praga varia de 34 a 64 dias, dependendo das condições climáticas da região. 

Os períodos de cada fase de desenvolvimento variam de acordo com a temperatura e, geralmente, são de 4 dias como ovo, de 20 a 40 dias como larva e de 10 a 20 dias como pupa. 

Pupa, lagarta e adulto de Agrotis ipsilon

Pupa, lagarta e adulto de Agrotis ipsilon 
(Fonte: IPM Images)

Danos causados às lavouras

Os ataques da lagarta-rosca ocorrem na fase inicial, desde a emergência das plântulas até o início do florescimento, o que pode comprometer o estabelecimento da cultura.

Quando o solo está mais úmido e tem maior deposição de matéria orgânica, os danos se intensificam devido à preferência da praga por este tipo de ambiente. 

Lagartas menores se alimentam das folhas mais próximas ao solo e de outras plantas hospedeiras próximas à cultura, como as plantas daninhas

Associadas a essas plantas hospedeiras alternativas, as lagartas aumentam o potencial de causar maiores danos por conseguirem ambientes propícios para se manterem por mais tempo na área. 

Um período bastante crítico é quando as lagartas maiores cortam as plântulas rente ao nível do solo. Uma única lagarta é capaz de seccionar várias plantas em uma noite. 

Em plantas mais desenvolvidas, as lagartas abrem galerias na base dos colmos. Esse hábito favorece o tombamento, o sintoma de coração morto e também pode levar a morte das plantas

Dano em milho provocado por lagarta-rosca

Dano em milho provocado por lagarta-rosca 
(Fonte: IPM Images)

Como fazer o manejo da lagarta-rosca

Como o hábito dessa lagarta é noturno e durante o dia permanece sob o solo, táticas e métodos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) contribuirão para o controle da população. 

O histórico da área deve ser analisado para que você saiba tomar as decisões corretas. Um bom manejo começa com um bom planejamento.

Um software agrícola pode lhe ajudar a monitorar a incidência da praga na lavoura para decidir o momento certo de entrar com medidas de controle.

Sabendo que há a possibilidade de se deparar com a lagarta-rosca, você poderá se preparar com alguns métodos como: 

Controle cultural

Sendo uma praga polífaga, a presença da lagarta-rosca na safra anterior já é motivo de alarde. 

Por isso, é importante que você faça um bom preparo do solo e elimine antecipadamente as plantas hospedeiras. 

Como os insetos ficam durante o dia sob o solo, um manejo com rolagem rolo-faca irá contribuir para reduzir a população que estiver na área. 

Outro ponto ideal é evitar cobertura morta e restos culturais para que a lagarta-rosca não tenha ambiente favorável para se manter até a chegada na nova safra. 

Controle químico

Existem algumas formas de utilizar o controle químico para lagarta-rosca. 

A primeira delas é fazer o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos para garantir a emergência e estabelecimento da cultura.

Outra maneira seria por meio das iscas tóxicas à base de farelo de trigo, açúcar, água e inseticida (piretroide ou carbamato). A aplicação deve ser distribuída na lavoura como grânulos no final da tarde. 

Além dessas, a forma convencional com aplicação de inseticidas pode ser realizada, mas deve ser feita  no final do dia, bem próximo da base das plantas. 

O registro dos inseticidas para controle de lagarta-rosca deve ser consultado no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Agrofit. Por isso, é importante que você consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para melhores detalhamentos de acordo com a sua cultura. 

Veja abaixo alguns exemplos de inseticidas registrados no Mapa:

Algodão 

Produto Ingrediente Ativo
(Grupo Químico) 
Titular de Registro 
  Cartarys   Cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato)) + Cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato))   UPL do Brasil Indústria e Comércio de Insumos Agropecuários S.A. – Matriz Ituverava

Milho

Produto Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Titular de Registro 
Capataz  clorpirifós (organofosforado)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Ciclone 48 EC  clorpirifós (organofosforado)  Tradecorp do Brasil Comércio de insumos Agrícolas Ltda  
Cipermetrin 250 EC CCAB  cipermetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Clorpiri 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Sharda do Brasil Comércio de Produtos Químicos e Agroquímicos LTDA  
Clorpirifós Fersol 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Ameribrás Indústria e Comércio Ltda.  
Clorpirifós Nortox EC  clorpirifós (organofosforado)  Nortox S.A. – Arapongas  
Clorpirifos Sabero 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Sabero Organics América S.A.  
Counter 150 G  terbufós (organofosforado)  AMVAC do Brasil Representações Ltda.  
Curanza 600 FS PRO  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Dermacor  clorantraniliprole (antranilamida)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Fortenza 600 FS  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Galgotrin  cipermetrina (piretróide)  Prentiss Química Ltda. – Campo Largo/PR  
GeneralBR  clorpirifós (organofosforado)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Karate Zeon 250 CS  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Karate Zeon 50 CS  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lecar  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lorsban 480 BR  clorpirifós (organofosforado)  Dow Agrosciences Industrial Ltda. – São Paulo  
Permetrin 384 EC CCAB  permetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Permetrina CCAB 384 EC  permetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Permetrina Fersol 384 EC  permetrina (piretróide)  Ameribrás Indústria e Comércio Ltda.  
Pounce 384 EC  permetrina (piretróide)  FMC Química do Brasil Ltda. – Campinas  
Sparviero 50  lambda-cialotrina (piretróide)  Oxon Brasil Defensivos Agrícolas Ltda.  
Wild  clorpirifós (organofosforado)  Albaugh Agro Brasil Ltda.- São Paulo  

Soja

Produto Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Titular de Registro 
Assaris  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sinon do Brasil Ltda. – Porto Alegre /RS.  
ÁvidoBR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
BrilhanteBR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Chiave Sup  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sipcam Nichino Brasil S.A. – Uberaba/MG  
Chiave 215 SL  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sipcam Nichino Brasil S.A. – Uberaba/MG  
Clorpirifós 480 EC Milenia  clorpirifós (organofosforado)  Adama Brasil S.A. – Londrina  
Curanza 600 FS PRO  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Extreme  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Fortenza 600 FS  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lannate BR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Majesty  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville) 

Controle biológico 

O controle biológico das lagartas pode ocorrer de maneira natural na lavoura, com inimigos naturais como microimenopteros, dípteros e entomopatógenos. 

Desta maneira, é importante que você utilize inseticidas de maneira seletiva para evitar que os organismos benéficos sejam eliminados da área. 

A seletividade de inseticidas usada pode ser ecológica e fisiológica. Ecológica com o uso dos produtos em horários mais favoráveis para atingir a praga e fisiológica com o uso de inseticidas pouco tóxicos aos organismos benéficos. 

banner planilha manejo integrado de pragas

Conclusão 

A lagarta-rosca é uma praga que tem causado danos em muitas culturas nos últimos anos como feijão, milho, soja e algodão. 

Tem hábito noturno e se aloja sob a terra no período do dia, por isso existe uma dificuldade de controle.

Os danos causados podem levar à morte da lavoura se a praga não for detectada a tempo. 

Existem formas de controlar a lagarta-rosca, sendo os principais controles cultural, químico e biológico (naturalmente). 

>> Leia mais:

Não cometa erros no manejo: 5 métodos de controle da lagarta-do-cartucho

Pragas quarentenárias: entenda os tipos e o que fazer para impedir a sua presença

Como realizar a aplicação localizada de insumos e otimizar os custos da sua lavoura

Aplicação localizada de insumos: entenda como fazer sem precisar investir em máquinas e equipamentos caros  

Hoje existem inúmeras ferramentas de agricultura digital sendo utilizadas nas fazendas para otimizar as aplicações de insumos agrícolas.

Mas você não precisa de máquinas caras para aplicar os insumos de maneira localizada nos talhões!

Com conceitos de agricultura de precisão e ferramentas tecnológicas, o manejo pode se tornar muito mais rentável. Acompanhe neste artigo como realizar as aplicações em doses variadas na sua fazenda usando ferramentas específicas ou gratuitas!

O que é aplicação localizada de insumos

A aplicação localizada é uma forma de manejar as lavouras aplicando doses diferentes de acordo com as necessidades de cada mancha presente na lavoura.

Os conceitos de agricultura de precisão nos mostram que as lavouras não são uniformes. Existem manchas de variabilidade nos talhões e a AP fornece ferramentas que auxiliam na identificação, interpretação e recomendação destes insumos de maneira diferenciada.

A agricultura de precisão visa entender as manchas nas lavouras, explorando-as e tirando proveito econômico e sustentável delas.

Com o auxílio de mapas georreferenciados é possível ir a campo coletar os dados, sejam provenientes de análise de solo, mapas de produtividade ou provenientes de sensores, e atuar aplicando insumos em taxa variável, baseando-se nessas manchas.

As aplicações localizadas podem ser realizadas de diversas maneiras dentro das lavouras.

As estratégias podem variar para atender tanto quem possui máquinas com GPS e kits de aplicação em taxas variáveis quanto quem não tem tais equipamentos, mas também deseja otimizar suas aplicações em campo.

A primeira delas e a mais conhecida é a aplicação utilizando máquinas equipadas com kits que englobam:

  • GPS para localização dentro das lavouras;
  • sensores
  • controladoras que atuam regulando a abertura da comporta ou a velocidade da esteira para mudanças nas doses aplicadas. 

Mas também é possível realizar a aplicação em doses variadas sem precisar gastar com máquinas e equipamentos caros, como você verá explicado mais a frente.

Como fazer a aplicação localizada de insumos sem comprar máquinas caras

Existem diversas estratégias que podem ser realizadas para a aplicação dos insumos em doses variadas nas lavouras.

Hoje já é possível, com o auxílio de softwares computacionais gratuitos como o QGIS, confeccionar mapas e analisar as manchas presentes em cada porção da lavoura.

Se você não possui ferramentas adequadas para aplicar os produtos automaticamente, baseados nos mapas, você pode optar por fazer a aplicação por células ou zonas.

Em softwares como QGIS é fácil simplificar o mapa e ir ao campo regular a máquina para aplicar doses fixas dentro das zonas, porém, alterar as doses de uma zona para outra.

(Fonte: Zanuncio, 2007)

Para demarcação das zonas e dos limites você pode usar um aplicativo de celular com GPS para orientação.  É possível até criar linhas paralelas de acordo com a largura de aplicação das máquinas que serão utilizadas.

Dessa forma, com a aplicadora de calcário da fazenda, é possível aplicar os insumos de maneira localizada e mais eficiente, o que resultará em maiores retornos financeiros.

O aplicativo para demarcação das zonas em campo é o Navegador de Campo ou Field Navigator.

aplicativo para demarcação das zonas em campo

(Fonte: Navegador de Campo)

Usando este aplicativo, é possível fazer as aplicações no campo de acordo com as zonas demarcadas com o auxílio do celular ou tablet.

Como analisar os dados para tomada de decisão

Conforme já citado, a primeira etapa do processo de aplicação localizada de insumos é a investigação em campo ou via sensoriamento remoto.

Com mapas e informações dos talhões em mãos fica mais fácil tomar decisões e entender melhor o que acontece na lavoura.

Mapas de fertilidade dos solos mostram quais áreas necessitam de dosagens diferentes de insumos e propiciam aplicação em doses variadas, sendo mais eficientes nas operações de campo.

Posteriormente às análises, a ação de gestão dos insumos e doses variadas pode ser realizada utilizando-se máquinas automatizadas ou não.

As aplicações em doses variadas podem ser realizadas para diversos insumos presentes nas fazendas, desde sementes, doses de herbicidas, teores de nutrientes, entre outros.

A tendência para o futuro é que sejam aplicadas populações de plantas em doses variadas, de acordo com a fertilidade dos solos em questão, e até semeadura de híbridos diferentes.

Aplicações de caldas com vazões diferentes também estarão cada vez mais presentes nas lavouras.

>> Leia mais: “Tudo o que você precisa saber sobre mapeamento de plantas daninhas

Aplicações pela média x aplicações localizadas

Na aplicação convencional, os fertilizantes e insumos são distribuídos igualmente em toda a área, com base em uma amostragem média para os talhões ou até para a fazenda toda.

Essa aplicação de forma uniforme, pela média, pode causar desperdício de insumos e quedas na produtividade.

Já por meio da agricultura de precisão temos benefícios como:

  • mais segurança na tomada de decisão;
  • economia de insumos;
  • visualização detalhada da propriedade;
  • economia financeira;
  • economia de recursos;
  • melhoria das atividades agrícolas;
  • maior controle da fazenda.

A aplicação localizada, geralmente, usa produtos simples para aplicação e não fórmulas, como muitos agricultores estão acostumados.

Além disso, os equipamentos para realização da aplicação em campo exigem um certo grau de automação e calibração dos conjuntos, o que muitos ainda desconhecem.

Por fim, a criação dos mapas – seja para levantamento de dados, criação das recomendações ou investigações das manchas presentes nas lavouras – também exige certos conhecimentos práticos e teóricos. 

Esse ponto acaba sendo um entrave para massificação desse tipo de operação nas lavouras. Mas, com tantas ferramentas e tecnologias de agricultura digital atuais, não continue realizando aplicações pela média!

Aplicação localizada de insumos com o Aegro

Um software de gestão agrícola como o Aegro te ajuda a organizar o seu cronograma de operações e controlar a quantidade de insumos que é aplicada em cada talhão. Assim, você consegue saber o custo real das suas áreas ao final da safra.

Além disso, você pode usar o Aegro para fazer o Manejo Integrado de Pragas na lavoura. Com uma visualização clara das infestações existentes, fica mais fácil saber onde e quando pulverizar. A escolha do defensivo certo para as pragas existentes também torna a sua aplicação mais eficiente. 

Outra vantagem do aplicativo é que você pode obter imagens de satélite para analisar o Índice de Vegetação Normalizada (NDVI) da lavoura. Essa é uma forma de acompanhar a saúde da sua plantação remotamente e poupar tempo na detecção de anomalias.

NDVI Aegro

O uso de um software agrícola como o Aegro ajuda a identificar talhões problemáticos e realizar aplicações localizadas

Ao descobrir quais áreas da sua propriedade apresentam problemas, você foca seus esforços de manejo onde é mais necessário e faz a aplicação localizada de insumos. 

Depois, você ainda pode acompanhar pelos mapas do Aegro se as suas aplicações geraram o resultado esperado no desenvolvimento das cultivares. As imagens NDVI ficam organizadas em uma linha do tempo para que você acompanhe a evolução da safra.

Para saber mais sobre o Aegro, peça uma demonstração gratuita do software!

planilha de compras de insumos

Conclusão

Existem diversas formas de realizar aplicações localizadas de insumos para otimizar a produção agrícola, aumentando a produtividade e a rentabilidade da lavoura.

Com as ferramentas certas e aplicativos de celular, muitas vezes gratuitos, é possível melhorar as aplicações utilizando zonas de manejo pré-determinadas. 

Então, para otimizar os custos da sua lavoura, busque ferramentas de agricultura digital, entenda os conceitos de agricultura de precisão e realize os tratamentos em doses variadas na sua fazenda também!

>> Leia mais:

Como fazer o correto monitoramento da produtividade de culturas

Índice de vegetação: o que ele pode dizer sobre sua lavoura

“Entenda os princípios e benefícios da pulverização eletrostática na agricultura”

Você tem alguma dificuldade para fazer a aplicação localizada de insumos na sua propriedade? Restou alguma dúvida? Adoraria ver seu comentário abaixo.

Enxofre para as plantas: função, adubação e outras recomendações de manejo

Enxofre para as plantas: função do nutriente, formas de absorção e exigências na cultura do milho e da soja

O enxofre é fundamental para a planta, pois é um macronutriente com papel estrutural em diversas moléculas – a exemplo do grupo dos aminoácidos, como metionina e cistina, necessárias para a formação de proteínas.

E, apesar da maior reserva do enxofre estar no solo como S-orgânico, adições desse elemento vêm demonstrando incrementos em produtividade, principalmente em solos arenosos e pobres em matéria orgânica. 

Veja como fazer o manejo do enxofre na sua lavoura e as principais recomendações a seguir!

Importância e função do enxofre para as plantas

O enxofre (S) é um dos nutrientes mais requeridos pelas plantas, fundamental em processos metabólicos e na produção de proteínas, o que influencia o desenvolvimento e enchimento dos grãos, por exemplo. Também está vinculado a processos metabólicos da fotossíntese, presente em coenzimas como a ferredoxina, e associado à fixação de nitrogênio.

Além dessas funções, o S também manifesta importância quanto às funções fungistáticas, acaricidas e inseticidas

O enxofre, assim como o cálcio e o magnésio, é conhecido como um macronutriente secundário, e precisa estar disponível à planta durante todo seu ciclo. Na maioria das culturas, a necessidade de enxofre gira em torno de 10 kg a 30 kg/ha. 

Mas existe diferença da necessidade entre leguminosas e gramíneas. Normalmente, as leguminosas são mais exigentes quando comparada às gramíneas. Isso se deve ao fato do teor de S em suas sementes ser maior.

Extração e exportação de S pelas culturas

Extração e exportação de S pelas culturas
(Fonte: Pauletti, 2004)

O solo fornece o enxofre para as plantas por meio da matéria orgânica – representando até 90% do total requerido pelas culturas agrícolas. Mas, para obter uma melhor produtividade, pode ser necessário incremento do S por meio da aplicação de fertilizantes

Esse nutriente é aplicado indiretamente, via alguns adubos como o superfosfato simples, sulfato de amônio e sulfato de potássio, por exemplo, e também através do gesso agrícola.

Na natureza, as rochas ígneas são a fonte primária de enxofre, normalmente como sulfato.

Absorção, transporte e redistribuição

As plantas absorvem o enxofre via sistema radicular, na forma de sulfato SO42+ , mas também de uma forma pouco eficiente pode ocorrer a absorção do SO2 atmosférico através dos estômatos foliares. 

Alguns ânions (como o cloreto e o selenato) podem atrapalhar o processo de absorção desse nutriente, tendo em visto que ocorre a inibição competitiva, acarretando menor eficiência quanto à absorção. 

O transporte deste nutriente é via xilema, seguindo das raízes para a parte aérea. O movimento inverso é muito pequeno, ou seja, sua redistribuição é bem reduzida. 

Por causa desse reduzido transporte via floema, a maioria da manifestação de carência de enxofre nas plantas ocorre em órgãos mais novos, como brotações e folhas mais novas.  

Tipo de solo e adsorção

Os solos argilosos, com altos teores de óxidos de ferro, apresentam grande capacidade de adsorção de SO4, o que diminui a sua movimentação no perfil do solo.

Já em solos arenosos e bastante intemperizados, a movimentação do SO4 é maior e, com isso, pode ser perdido por percolação, além de já ter menor reserva de S orgânico

Nota-se que as maiores respostas à aplicação de S são vistas em solos intemperizados, com baixo teores de matéria orgânica e baixo teor de argila.

Sintomas e problemas da deficiência de enxofre

Como o enxofre é pouco redistribuído nos tecidos vegetais, em caso de carência do elemento, os sintomas aparecem primeiro nas folhas mais novas, como uma clorose generalizada no limbo foliar.

Além dessa clorose, há o comprometimento da síntese de proteínas que requerem os aminoácidos cistina, cisteína e metionina. Também pode haver crescimento retardado e acúmulo de antocianina. 

A fixação biológica do N2 atmosférico também é bastante diminuída sob condições de deficiência de S, assim como a síntese de gorduras (óleos), que fica afetada nestas condições.

Por participar de uma série de reações e de um grande número de compostos, a carência de enxofre para as plantas provoca uma série muito grande de distúrbios metabólicos.

A deficiência de enxofre nas plantas não é comum, pois geralmente os solos possuem quantidade suficiente deste nutriente. Mas, devido à utilização intensiva dos solos, isso pode ser notado.

Fontes e opções de aplicação de enxofre para as plantas

O solo fornece de 60% a 90% do total de enxofre necessário para as plantas. Para ser aproveitado pelas plantas, o S-orgânico deve ser mineralizado, o que depende da relação C/S. 

Entretanto, sabe-se que a adição de enxofre nas plantas é feita normalmente de uma forma indireta, ou seja, via alguns adubos que o apresentam em sua constituição. 

Normalmente, os fertilizantes fosfatados estão na forma de sulfato e suas diversas combinações. 

O sulfato de amônio é uma boa opção para adição de enxofre para plantas, e também nitrogênio, sendo usado para adubação de cobertura, tendo em vista que o S contido está prontamente disponível e o N é pouco volatilizado.

O superfosfato simples apresenta como vantagem a presença de cálcio e enxofre, possibilitando a melhoria das condições subsuperficiais do solo. 

Outra fonte de S, o gesso também é uma alternativa, mas requer cautela quando usado, pois pode causar desequilíbrio de bases na camada de 0 cm a 20 cm. 

O S elementar apresenta alta concentração de enxofre, porém de uma forma ainda não disponível, dependendo da atuação de microrganismos. Mas, por seu custo ser relativamente baixo, desperta interesse a sua utilização. 

O sulfato de potássio é muito utilizado em culturas sensíveis ao cloro e que são exigentes quanto ao potássio. Também é bastante empregado em solos salinos, pois é um fertilizante com índice salino mais baixo

O sulfato de magnésio e potássio são muito utilizados em áreas com limitações quanto à chuva e/ou irrigação

Fontes de fertilizantes contendo enxofre

Fontes de fertilizantes contendo enxofre
(Fonte: Informações Agronômicas nº 129)

Exigência de enxofre em milho e soja

Adubação e manejo de enxofre para milho 

A extração de enxofre pela planta de milho é pequena: varia de 15kg a 30 kg/ha para produção de grãos em torno de 5 t/ha a 7 t/ha.

No milho, os sintomas de deficiência são amarelecimento do caule e das folhas mais novas, início nas bordas até a nervura central das folhas e as folhas mais velhas permanecem verdes.

Desta maneira, tem-se utilizado o enxofre no solo na forma de sulfato para prever respostas ao elemento. 

Assim, em solos com teores de enxofre inferiores a 10 ppm (extração com fosfato de cálcio), o milho apresenta grande probabilidade de resposta a esse nutriente. Neste caso, recomenda-se a aplicação de 30 kg de S por hectare

Para acompanhar a extração e exportação de nutrientes e obter mais produtividade na lavoura, baixe aqui a planilha gratuita de adubação do milho!

Adubação e manejo de enxofre para soja

A cultura da soja requer, em média, 10 kg de S para cada tonelada produzida.

O S é um nutriente fundamental para rendimentos maiores da soja por ser, principalmente, um elemento catalisador das principais reações que envolvem o fósforo nas transformações bioquímicas na cultura.

Plantas deficientes de S apresentam amarelo pálido nas folhas mais novas, tornando toda a planta na tonalidade amarela, além das folhas ficarem pequenas.

diferença de plantas com e sem enxofre

(Fonte: Pauletti e Sloboda)

Para conhecer os teores de enxofre na sua lavoura é importante fazer a análise de solo e, em seguida, o ajuste à quantidade produzida, como mostra a tabela a seguir: 

Indicação de adubação de correção e de manutenção com enxofre (S)

Indicação de adubação de correção e de manutenção com enxofre (S), conforme as faixas de teores de S no solo (mg dm-3), a duas profundidades no perfil do solo, para a cultura da Soja no Brasil. 2ª aproximação
(Fonte: Embrapa)

banner para baixar a planilha de cálculo de fertilizantes para milho e soja

Conclusão 

O enxofre é essencial ao desenvolvimento vegetal e está intimamente ligado à matéria orgânica do solo. 

Neste artigo, falamos sobre sua forma de absorção (SO42-) e elencamos algumas fontes desse nutriente para a lavoura.

O fornecimento em doses adequadas depende da cultura e de uma análise de solo.  

Com essas informações, espero que você consiga melhores resultados na produtividade da sua lavoura!

Leia mais:

Descubra qual o melhor adubo para a sua lavoura

9 micronutrientes das plantas: como e quando utilizá-los

Como ter mais eficiência na adubação com ureia agrícola

Como você tem manejado o enxofre para as plantas em sua lavoura? Já notou efeitos positivos em produtividade? Conte pra gente nos comentários!

Como evitar e combater a mela do algodoeiro em sua lavoura

Mela do algodoeiro: principais sintomas da doença, manejos preventivos e outras recomendações de controle para sua lavoura.

A lavoura de algodão pode sofrer com diversas doenças fúngicas. Uma delas é a mela do algodoeiro que vem causando muita dor de cabeça e perdas de produtividade em todo o país.

Por ser uma doença relativamente nova no Brasil, não existem muitas informações sobre o manejo. Por isso, o mais importante é prevenir sua entrada na lavoura. 

Acompanhe neste artigo as recomendações mais atualizadas para evitar, identificar e, se necessário, controlar a doença na sua propriedade!

O que é a mela do algodoeiro?

A mela do algodoeiro é uma doença ocasionada pelo agente causal Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose AG4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk).

É um patógeno de solo capaz de infectar a cultura do algodão logo em sua fase inicial de desenvolvimento e apresenta difícil controle por produzir escleródios (estrutura de sobrevivência do fungo) no solo.

Na prática, a ocorrência da mela do algodoeiro representa menor rentabilidade ao produtor, pois reduz a população de plantas no campo, sendo necessária, muitas vezes, a ressemeadura.

A presença do fungo é favorecida principalmente pelo monocultivo do algodão, juntamente com o preparo intensivo do solo.

Casos de encharcamento e alagamento de solo podem contribuir fortemente para o aumento do patógeno, se você utilizar sementes com baixo vigor e realizar a semeadura do algodoeiro fora da época.

A dica é evitar épocas muito chuvosas para o plantio, pois esse patógeno se adapta bem a ambientes úmidos (em média 80% de Umidade Relativa) e temperatura entre 25℃ a 30℃.

O primeiro relato da doença foi na safra 2004/05 no Mato Grosso. Desde então, já foi detectada em diversos estados produtores de algodão como Mato Grosso do Sul e Bahia.

ciclo fisiológico das doenças do algodoeiro

Mela do algodoeiro é uma das doenças iniciais da cultura do algodão
(Fonte: Luiz Chitarra/Embrapa em Congresso do Algodão)

Sintomas da doença no algodoeiro

Para identificar a mela do algodoeiro na lavoura, fique atento aos sintomas iniciais: lesões, com aspecto oleoso, nas bordas dos cotilédones.

Conforme o desenvolvimento da doença, podem ser observados o encharcamento (anasarca) e a destruição total dos cotilédones, levando a plântula à morte.

Plântulas de algodoeiro com sintomas de mela

Plântulas de algodoeiro com sintomas de mela 
(Fonte: Goulart e colaboradores)

Atenção para não confundir os sintomas da mela do algodoeiro com outras doenças, como a causada pelo R. solani AG4, popularmente conhecida como “tombamento”. Seus sintomas, no caso, são formações de lesões no colo e nas raízes das plântulas de algodão, que podem ser confundidos com a mela.

Como evitar a mela do algodoeiro

A cultura do algodoeiro demanda muitos cuidados para alcançar altas produtividades. Um deles é o manejo preventivo de doenças fúngicas.

O primeiro passo é justamente evitar a entrada e a proliferação de fungos na lavoura. Para isso, realize um bom planejamento dos processos da fazenda e tome atitudes bastante simples, mas eficazes, como manejo preventivo.

Veja alguns cuidados que devem ser levados em consideração:

  • realize a limpeza frequente de máquinas e implementos agrícolas;
  • utilize sementes certificadas e de alto vigor;
  • realize teste de qualidade de água (caso utilize irrigação);
  • faça o tratamento de sementes;
  • realize a rotação de culturas (utilize gramíneas que reduzam a infestação de R. Solani);
  • mantenha o solo com adubação equilibrada;
  • escolha a época de plantio (evite períodos chuvosos);
  • realize o manejo integrado de doenças;
  • elimine plantas hospedeiras;
  • realize frequentemente análises de solo em sua lavoura.

Quando o assunto é fungos, é melhor pecar pelo excesso de manejos preventivos do que pela falta!

Situação ideal de desenvolvimento da mela do algodoeiro

Situação ideal de desenvolvimento da mela do algodoeiro; doença é altamente favorecida pelo clima chuvoso na fase inicial da cultura
(Fonte: Cultivar)

Mas, e quando a lavoura já está afetada pela doença, o que fazer? Vou explicar melhor a seguir:

Formas de controle

Para o controle da mela do algodoeiro, a utilização de tratamento de sementes com fungicidas vem como um forte aliado, principalmente pela doença se manifestar nas fases iniciais de desenvolvimento.

Estudos realizados pela Embrapa Algodão, indicam que o tratamento químico com Dynasty + Cruiser proporcionaram menor número de plântulas afetadas pelo fungo. Além disso, os resultados são potencializados com a aplicação de fungicidas preventivos nos estádios iniciais da cultura.  

Estudos também indicam ótimos resultados de emergência de plântulas para sementes tratadas com tolylfluanid + pencycuron + triadimenol.

Outra opção de manejo seria a adição de fungicida PCNB (pentachloronitrobenzene), na dose de 500g/100kg de sementes às misturas padrões (fludioxonil + mefenoxan + azoxistrobina, carbendazim + tirame + pencycuron + triadimenol e carboxina + thiram), que já eram utilizados no controle do tombamento.

Contudo, antes de escolher seu tratamento de sementes, observe quais os principais problemas da sua lavoura.

Caso sua área esteja infestada com o patógeno, opte pela combinação: tratamento de sementes+aplicação foliar logo após a emergência+rotação de cultura

Sobre qual produto utilizar para aplicação foliar no manejo da mela do algodoeiro, consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a)! Além disso, sempre realize o monitoramento em sua propriedade.

O manejo imediato da mela do algodoeiro irá evitar perdas consideráveis de produtividade e, principalmente, que o fungo se espalhe por todos os talhões da propriedade.

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Conclusão

A mela do algodoeiro é uma doença com relatos recentes e que vem causando problemas em diversas regiões do país.

Neste artigo, você viu como reconhecê-la no campo e os cuidados para evitar a contaminação de fungos na lavoura. Também conheceu as recomendações de manejos para controle da doença.

Espero que essas informações possam auxiliar seu dia a dia no campo e no planejamento preventivo da mela na sua propriedade!

>> Leia mais:

As 6 mais importantes dicas para a colheita do algodão

Como fazer o manejo integrado do bicudo-do-algodoeiro

Você tem problemas com a mela do algodoeiro em sua lavoura? Quais medidas de prevenção utiliza para evitar essa doença? Adoraria ver seu comentário abaixo! 

Tudo que você precisa saber sobre a produção de cafés especiais

Produção de cafés especiais: entenda melhor esse mercado e veja as dicas de como implantar ou adaptar sua lavoura para esse tipo de bebida

O consumo de cafés especiais no Brasil cresce 15% ao ano, ritmo quatro vezes maior que o dos cafés tradicionais! No mundo, a tendência também é de aumento.

O mercado de cafés especiais, portanto, é um nicho a ser explorado. Os preços pagos são maiores e a qualidade final do produto também. 

Mas para focar na produção de cafés especiais é preciso mudar o modo como se pensa a cafeicultura. Alterações são necessárias desde à lavoura até a comercialização do produto.

Separei algumas dicas sobre como produzir cafés especiais e como não errar na transição de uma produção de cafés convencionais para os especiais. Confira!

O que são cafés especiais

O Brasil é o maior produtor de café do mundo e só perde para os Estados Unidos em consumo. Mas apenas 10% do consumo de cafés no nosso país fica por conta dos especiais. Isso por enquanto, pois esse mercado vem mudando rapidamente e o crescimento é inevitável.

Mas, afinal, o que são esses café especiais?

A SCA (Specialty Coffee Association – Associação de Cafés Especiais) padroniza a metodologia para classificação de cafés em nível mundial.

Segundo a SCA, os cafés especiais em grão verde são 100% arábica e não podem apresentar nenhum defeito primário (grãos pretos, ardidos, fungados, material estranho, etc) e, no máximo, dois defeitos secundários (defeitos parciais). 

Defeitos dos cafés em grão verde

Defeitos dos cafés em grão verde
(Fonte: Mexido de ideias.com)

Ela também considera como especiais aqueles cafés com 80 pontos ou mais em sua avaliação de bebida (que vai de 0 a 100) e analisa diversos parâmetros como mostra o vídeo explicativo abaixo.

No Brasil, a BSCA (Cafés especiais do Brasil) se baseia nessas diretrizes também. 

A seguir, veremos como produzir cafés especiais que atendam a esses parâmetros. 

Como produzir cafés especiais

É importante lembrar que a produção de cafés especiais deve visar, acima de tudo, atender à demanda do mercado consumidor desses cafés. É ele que vai direcionar as ações do produtor.

Portanto, vamos começar de trás para frente, mostrando primeiramente o que o consumidor quer e, depois, abordando como produzir café para atendê-lo.

Entenda o mercado

Segundo levantamento do Sebrae, os consumidores de cafés especiais no Brasil querem saber a origem do café e se a produção é sustentável, além de exigir qualidade, é claro

Do ponto de vista do consumo em si – do café na xícara – o mercado busca toda uma experiência de consumo, com ampla variedade de cafés e métodos de preparo, um ambiente agradável e maior proximidade com a origem do café, com o produtor.

Formas de atender à demanda

Partindo desse princípio, o produtor tem alguns caminhos a tomar, por exemplo:

  1. Produzir cafés de qualidade e se associar a cooperativas para venda.
  2. Criar a própria marca de café e vender o produto final diretamente ao varejo/consumidor final.
  3. Fornecer a experiência de se tomar um café especial, com um espaço para receber os clientes, servir, vender e contar como foi produzido aquele café.
Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado

Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado
(Fonte: Cafezal em Flor)

Não é o intuito deste texto entrar em detalhes sobre cada um desses modelos, pois a prosa seria longa e são apenas modelos gerais para ilustrar. Mas algumas considerações cabem aqui.

Transição de lavouras convencionais para produção de cafés especiais

Perceba que cada um desses três exemplos acima representam níveis de complexidade e detalhamento do negócio diferentes.

No primeiro caso, a transição para a produção de cafés especiais é mais fácil e necessita apenas de algumas modificações no sistema produtivo convencional.

Nos outros dois, o produtor tem que dominar as técnicas de cultivo e processamento, e entender a fundo o mercado, os canais para acessar o cliente e, mais importante, como lidar diretamente com esse público. 

O desafio é ainda maior caso se deseje explorar o competitivo mercado internacional de cafés. De qualquer maneira, todo bom café parte de boas práticas em sua produção!

Plantio, escolha de variedades e manejo da lavoura

Como os consumidores se preocupam com as origens dos cafés especiais, é importante haver a rastreabilidade da semente à xícara. 

Portanto, no plantio ou renovação da lavoura é fundamental comprar mudas de viveiristas certificados e que sigam boas práticas na produção.

Teoricamente, qualquer variedade pode produzir cafés especiais, por isso, não é necessário que se troque a variedade já existente no local. 

No caso de lavouras novas ou em reforma, opte por escalonar a produção, com variedades precoces, médias e tardias. 

Dessa maneira a sua colheita será gradual, permitindo dedicar mais tempo à ela e colher somente os frutos realmente maduros, reduzindo a porcentagem dos verdes. 

A partir daí, o manejo pode ser convencional ou até orgânico. De qualquer maneira, o manejo sempre deve seguir boas práticas de manejo nutricional, de pragas e doenças, para uma produção sustentável de café.

Colheita e pós-colheita de cafés especiais

Talvez essa seja a parte mais importante de toda essa conversa!

Quando se fala em cafés especiais, todo capricho é pouco na hora da colheita e do processamento. É necessário padronização, uniformidade.

Primeiramente, deve-se evitar a colheita de grãos verdes, selecionando só os cerejas. No caso de colheita mecanizada, é indicado manter os verdes abaixo de 20% e separá-los após a colheita.

Cafés no ponto ideal para colheita

Cafés no ponto ideal para colheita
(Fonte: World Coffee Research)

Também é ideal dividir os cafés colhidos em lotes menores, de acordo com a variedade, expectativa de produção do talhão e também histórico da área, por exemplo. Isso facilita o controle dos cafés e a obtenção de lote mais homogêneos e melhores. 

Separação de cafés em microlotes para secagem

Separação de cafés em microlotes para secagem
(Fonte: agenciaminas.mg.gov.br)

Após a colheita, existem inúmeras possibilidades de processamento e pós-colheita para a obtenção de diversos tipos cafés especiais. Tudo é bem controlado e detalhado.  

Já falamos especificamente sobre esse processo aqui no Blog do Aegro! Confira aqui as tendências e perspectivas na pós-colheita para um café de qualidade.

Vale lembrar que nem toda a produção da lavoura será especial, mesmo que tudo seja controlado. Por isso, é tão importante a separação de lotes e um controle rígido sobre os cafés.

Custo de produção de cafés especiais

Quando o assunto é custo de produção, cada caso é um caso. Para cada situação podem existir diferentes questões que reduzem ou aumentam os custos.

No caso dos cafés especiais, a transição de uma produção focada no convencional para o especial pode ser mais custosa, dependendo do nível de detalhamento já empregado no manejo e gerenciamento da propriedade. 

Mas, de modo geral, os custos da produção de cafés especiais são mais elevados, pois demandam maior investimento tanto na lavoura como no pós-colheita. 

É preciso investir mais em análises de solo, foliar, no monitoramento de pragas/doenças (que precisa ser mais frequente) e no gerenciamento de talhões. Na colheita/pós-colheita, paga-se o preço de uma colheita mais seletiva, separação de lotes distintos e secagem diferenciada, por exemplo.

Contudo, devido ao maior preço pago pelo café especial, as receitas também são maiores, o que pode aumentar a lucratividade da produtividade.  

Dependendo do nicho de mercado que se quer explorar, sabemos que cafés especiais podem atingir preços elevadíssimos, onde micro-lotes equivalem a muitas e muitas sacas do convencional. Duvida que isso seja possível? Vamos lá!

Concursos de qualidade

Anualmente, a BSCA realiza o “Cup of Excellence – Brazil”, o principal concurso de qualidade de café do mundo. Uma forma de premiar os melhores cafés, melhorar a imagem do café do Brasil internacionalmente e incentivar a produção de café especiais.

Na edição do ano passado, 2019, o ganhador era da região Sul de Minas Gerais e vendeu seu café por “míseros” US$ 7.900 a saca! Isso mesmo! E, na média dos competidores do concurso, nenhum café saiu por menos de US$ 1.500 a saca.

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta
(Fonte: BSCA)

Esse exemplo ilustra muito bem como a produção de cafés especiais pode ser uma solução, especialmente em tempos de baixo preço do café na bolsa de Nova York.

Logicamente, essa qualidade não se fez da noite para o dia. Houve muita dedicação e trabalho por parte desses produtores para chegar a isso. Mas se eles conseguiram, por que você também não pode conseguir? E aí, o que me diz?

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Conclusão

O mercado de cafés especiais é um nicho a ser explorado pelo cafeicultor brasileiro. São várias opções a seguir, mas, para fazê-lo, é necessário tomar cuidados adicionais, desde o campo até a xícara. 

Nesse quesito, o produtor brasileiro está com a “faca e o queijo na mão” ou melhor “com o “coador e a xícara na mão”! Já sabemos produzir café muito bem, basta alguns ajustes para obter maior qualidade no produto. 

A produção de cafés especiais deve ser voltada para as exigências do mercado. Assim, embora tenha um maior custo associado, a produção pode ser vantajosa, pois os preços pagos pelo produto também são maiores.

Não existe uma receita pronta sobre como produzir cafés especiais. Para cada realidade, o mercado desses cafés pode ser explorado de forma distinta e igualmente válida!

>> Leia mais:

10 dicas para melhorar a gestão da sua lavoura de café

Adubação para café: simples e prática (+ planilha)

Você já pensou em adaptar sua lavoura para a produção de cafés especiais? Quais as maiores dificuldades para isso? Conte para gente nos comentários. Grande abraço e até a próxima!

Mapeamento agrícola com drone: como implementar na sua fazenda?

Saber onde investir é o primeiro passo para aplicar o mapeamento agrícola com drone na fazenda

Campo e tecnologia nunca estiveram tão conectados. Engana-se quem pensa que abraçar uma cultura digital em uma fazenda é ineficaz ou algo exagerado – preparação de solo, plantio e colheita: todas as etapas de uma produção agrícola podem ser potencializadas pela tecnologia.

Um bom exemplo de como unir tecnologia e agricultura são os drones, cada vez mais populares e utilizados para o mapeamento de fazendas e para obter dados do plantio.

Neste post, feito em parceria com a Horus Aeronaves, traremos orientações para quem quer aderir ao mapeamento agrícola com drone na sua propriedade: como ocorre o processo, quais são os drones utilizados e como começar a utilizá-los na sua propriedade.

Como os drones são capazes de mapear?

Este é um assunto muito técnico, portanto, explicaremos de uma maneira simplificada.

Uma foto de drone é diferente de um mapa feito com drone – este assunto rende uma discussão à parte que você pode entender melhor neste post.

O requisito obrigatório para realizar um mapeamento com drone é a capacidade do equipamento voar de maneira automática, através do seu sistema de GPS, sendo guiado por um plano de voo.

Observe como é feito o processo:

Mapeamento agrícola com drone

Ao tirar uma foto, o drone terá os dados de coordenadas do momento exato da foto, com latitude, longitude e altitude.

Em um voo de mapeamento, o operador seleciona a área de interesse em um aplicativo planejador de missão. Este aplicativo então ditará a trajetória do voo, observados alguns parâmetros como altitude de voo e sobreposição das imagens.

Como cada foto possui dados de coordenadas, é possível “cruzar” as informações de posicionamento entre si, através do processamento das imagens, gerando um ortomosaico – um mapa com distorções corrigidas e completamente georreferenciado.

A partir deste mapa, várias análises são possíveis – nós falaremos sobre elas depois.

Entenda sua demanda antes de escolher o drone

Certo, entendemos como ocorre o mapeamento. E agora, qual o drone ideal?

Muitos profissionais cometem o erro de comprar um drone qualquer, sem antes entender o objetivo por trás do investimento.

O universo dos drones é diversificado, existem modelos para diferentes perfis de usuários, que vão variar em valor e entregar resultados diferentes entre si.

Por isso, é muito importante que o produtor, agrônomo ou prestador de serviço tenha consciência de como pretende utilizar o seu equipamento no futuro – assim não haverá erro na escolha do tipo de drone.

Que tipo de drone escolher para o mapeamento?

De modo geral, dois tipos de drones são utilizados para o mapeamento: multirotores e asas fixas.

Ambos são capazes de desempenhar as mesmas funções praticamente em sua totalidade, tendo algumas diferenças em relação à sua capacidade de mapear áreas maiores em menos tempo e a possibilidade de embarcar diferentes sensores.

Os drones multirotores são modelos conhecidos no âmbito popular, é a imagem que vem à sua cabeça quando lê a palavra drone – aquele no formato de helicóptero, com quatro hélices.

Já os modelos de asa fixa lembram o formato de um avião, com aerodinâmica projetada para voar em uma velocidade muito mais alta.

A sua principal diferença é a capacidade de voar durante mais tempo, o que chamamos de autonomia de voo.

Enquanto um multirotor possui, em geral, 20 a 30 minutos de autonomia, os modelos de asa fixa são capazes de voar de 90 a 120 minutos – logo, são capazes de mapear áreas muito maiores.

tipos de drones Horus

Propriedades até 100 ha podem ser mapeadas com um multirotor. Acima de 100 ha, recomenda-se o uso de modelos de asa fixa pela sua maior capacidade de trabalho.

Como falamos anteriormente, o objetivo deve estar claro para a escolha do modelo: drones de asa fixa são capazes de embarcar câmeras com sensor multiespectral, responsáveis por mapas de saúde da vegetação, como o NDVI, por exemplo.

Além do drone, o que mais é preciso para mapear?

Com o drone em mãos, você vai precisar de um aplicativo planejador de missão, como o Pix4D Capture, DJI Pilot ou Map Pilot, por exemplo. Nos modelos de asa fixa, o fabricante geralmente fornece o software de planejamento.

Para a etapa pós-voo, será necessário processar as fotos feitas pelo drone para transformá-las em um mapa.

Este processamento pode ser feito offline, através de um software específico e um supercomputador (o que exigirá um alto investimento), ou online, com uma plataforma de processamento de imagens de drones em nuvem – uma opção mais prática e com melhor custo benefício.

É importante que o futuro operador do drone esteja capacitado para a função, realizando um curso de mapeamento com drones.

Caso você opte pelo processamento offline, também terá de se capacitar no software escolhido para fazer o processamento das imagens do drone.

No vídeo abaixo, listamos os investimentos necessários e os valores aproximados para cada etapa:

Que informações consigo extrair do mapeamento com drones?

Existem dois tipos de resultados que podem ser extraídos de um mapeamento com drones: o resultado de um processamento de imagens e os resultados a partir de um pós-processamento.

Ao finalizar um voo e processar as imagens, você terá em mãos o que chamamos de resultados “brutos” – ortomosaico, modelos digitais de terreno e superfície, índices IFV e VARI, arquivos de curvas de nível e nuvem de pontos do terreno.

Eles serão a base para as análises de pós-processamento, que fornecerão as informações mais valiosas para os produtores, como:

  •  a verificação de falhas de plantio;
  • geração de shapefiles para aplicação de insumos em taxa variável;
  • identificar infestações de plantas daninhas;
  • mapas de saúde da vegetação;
  • análise de linhas de plantio e suas falhas;
  • contagem de plantas e outras análises.

Veja:

Mapeamento agrícola com drone

Conclusão

Investir no mapeamento agrícola com drones é uma decisão importante, que deve ser tomada com base em estudo – entenda a sua demanda, seu objetivo e escolha o modelo adequado para não errar no investimento.

Com mais informações para a tomada de decisão, há melhora no manejo da propriedade, e o reflexo nos resultados serão consequência disso.

Não fique para trás – o tempo e a tecnologia já são uma realidade.

Você já faz o uso de drones para mapeamento da sua propriedade? Tem interesse de começar? Compartilha sua opinião sobre o assunto deixando seu comentário abaixo!

Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão

Estádios fenológicos do feijão: confira o que fazer em cada fase de cultivo para alcançar alta produtividade deste grão.

Erros de manejo são um problema para qualquer lavoura – mas o prejuízo é muito maior quando se trata de uma cultura com ciclo curto, como o feijão.

Além disso, o cultivo é tido como um dos mais arriscados pela grande flutuação de preços no mercado.

Por isso, preparamos este artigo com tudo que você precisa saber a respeito dos estádios fenológicos do feijoeiro para garantir o melhor manejo, produtividade e lucro com sua lavoura. Confira a seguir!

Importância do feijão

O feijão é uma das bases da alimentação do brasileiro, acumulando quase 3 milhões de hectares semeados na safra 2019/20.

Como é uma planta de ciclo curto, o feijoeiro pode ser comumente semeado em três épocas aqui no Brasil: safra de verão, segunda safra (outono) e safra de inverno.

Na safra deste ano, a estimativa é produzir 3,1 milhões de toneladas do grão, sendo que as maiores produtividades ficam para as safras de inverno (1,3 ton/ha) seguida das safras de verão (1,2 ton/ha) e da safra de outono (0,8 ton/ha).

Todos os estádios fenológicos do feijão

O ciclo de vida das plantas pode ser dividido de acordo com as fases de crescimento delas. A divisão mais simples é entre a fase vegetativa e reprodutiva da planta.

Na fase vegetativa podemos dizer que as plantas são “jovens”: elas ainda não atingiram a maturidade reprodutiva, mas estão se preparando para ela, produzindo folhas e raízes

Desta forma, todo a energia produzida vai para garantir uma maior capacidade de gerar energia no futuro. Isso acontece porque a planta logo entrará na fase reprodutiva e então terá de arcar com mais um custo energético, que são os grãos (no caso do feijão). E, para produzi-los, a planta precisa de muita energia! 

Estádios fenológicos do feijão

Escala fenológica do feijoeiro
(Fonte: Embrapa, 2018)

Existem quatro tipos de feijoeiro, divididos de acordo com o hábito de crescimento. Veja:

  • Tipo 1

Tem crescimento ereto e determinado, ou seja, quando entra na fase reprodutiva ele cessa por completo a fase vegetativa.

  • Tipos 2, 3 e 4

Têm crescimento indeterminado e, quando entram na fase reprodutiva, continuarão vegetando e emitindo novas folhas.

Os tipos de crescimento indeterminado variam o quanto irão vegetar após a planta entrar na fase reprodutiva, variando assim a duração do ciclo e a uniformidade da produção.

Variação do ciclo do feijoeiro em diferentes cultivares
(Fonte: CIAT, 1985)

No tipo 4, por exemplo, de crescimento trepador, a planta continua produzindo vagens e folhas por um longo período. Se por um lado a planta pode se recuperar de erros de manejo, por outro, isso torna a produção desuniforme.

A seguir, vou explicar melhor os estádios fenológicos do feijão (fases vegetativa e reprodutiva) e qual a importância no manejo da lavoura.

Estádios vegetativos na escala fenológica do feijoeiro

V0 – Germinação

Começa com a absorção de água pela semente, iniciando o processo de germinação. 

Nesta fase, a lavoura está mais suscetível a pragas como a lagarta-rosca, a larva das sementes, gorgulho-do-solo e larva-alfinete, que atacam diretamente as sementes.

Quanto a doenças, é importante se precaver contra as podridões radiculares com um bom tratamento de sementes, visando fungos e insetos.

Nesse estádio, a lavoura é muito sensível ao estresse hídrico, requerendo 1,3 mm de lâmina d’água diariamente em média. 

V1 – Emergência

Começa com a aparição dos cotilédones até a abertura das folhas primárias (folhas cotiledonares/simples).

O foco de manejo aqui ainda são as pragas que atacam sementes e plântulas e as podridões-radiculares. 

Um bom tratamento de sementes garante que a lavoura passe por esta fase ilesa e saudável. 

V2 – Folhas Primárias

Essa fase se inicia com a abertura das folhas primárias e termina com a abertura da primeira folha trifoliolada

Aqui começam os cuidados com pragas desfolhadoras e sugadoras/raspadoras, que podem atacar a planta até o final do enchimento de grãos (R8).

Nesta fase, o cuidado deve ser redobrado, pois as plantas apresentam pouca área foliar que, se comprometida, pode prejudicar severamente a produtividade.

O foco aqui deve ser as vaquinhas, que podem atacar os meristemas apicais, além da mosca-branca que, apesar de apresentar dano direto baixo, transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro.

Deste estádio até V4, a cobertura do solo por palha reduz em até 30% a evapotranspiração da lavoura, reduzindo a demanda por água.

V3 – Primeira folha composta aberta

Começa com a abertura da primeira folha trifoliolada (composta) e termina com a abertura da terceira folha.

Da fase V3 a R8, as plantas ficam suscetíveis a ataques de nematoides como o Meloidogyne incognita e javanica, além do famoso P. brachyurus

É importante ficar de olho nas pragas sugadoras, que afetam grande parte do ciclo da cultura, como a cigarrinha-verde, o ácaro-rajado a tripés e o ácaro-branco.

Pragas desfolhadoras como os minadores, as lagartas enroladeira das folhas e a cabeça de fósforo também podem causar grande dano nesse momento.

Em estádios mais avançados, o feijoeiro pode tolerar até 30% de desfolha, mas, como vimos aqui, nos estádios iniciais, essas pragas podem comprometer seriamente a produtividade.

V4 – Terceira folha composta aberta

Inicia-se com a abertura completa da terceira folha trifoliolada.

Esta fase é menor nos feijoeiros de crescimento determinado e maior nos de crescimento indeterminado. 

Aqui começam os ataques de pragas dos caules, como a broca-das-axilas e o bicudo-da-soja.

As principais doenças para iniciar o controle de infestação nessa fase são a antracnose, o mosaico-dourado, o mosqueado-suave e a mela.

Durante esta fase, a planta apresenta uma área foliar maior, o que irá demandar mais água, sendo aqui um dos picos de consumo, com uma média de 56 mm (ao todo) durante a fase.

No início desta fase é recomendado verificar a nodulação das plantas, sendo que, se forem menor que 15 nódulos/planta, é recomendado entrar com adubação nitrogenada de cobertura.

Também é nesta etapa que se inicia o período crítico de prevenção de interferência. De V4 até R6, a lavoura pode sofrer grandes perdas de produção devido à presença de plantas daninhas.

Então, é fundamental realizar o controle de daninhas nesse período para garantir altas produtividades. 

Ainda que esta seja a fase ideal para o controle, o acompanhamento da infestação deve ser feito desde o início do ciclo da cultura, pois caso haja plantas daninhas mais desenvolvidas neste momento, isso iria diminuir o efeito dos herbicidas de controle.

Estádios reprodutivos do feijoeiro

R5 – Pré-floração

Começa com o surgimento dos primeiros botões florais. Desta fase até R7 há outro pico de demanda hídrica do feijoeiro.

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa
(Fonte: Embrapa, 2018)

Os botões florais e as flores são extremamente sensíveis ao clima. Temperaturas maiores que 35℃ e menores que 12℃ podem provocar abortamento das flores.

A época de semeadura deve ser alocada de maneira que a floração ocorra, preferencialmente, com uma temperatura média do ar de 21℃.

A partir desta fase o feijoeiro fica mais suscetível à murcha do fusarium, à ferrugem, ao oídio e à mancha-angular.

O mofo-branco começa sua ocorrência também no início da fase reprodutiva, sendo essencial o controle de infestação dessas doenças.

R6 – Floração

Ocorre quando a planta apresenta pelo menos 50% das flores abertas. Nesta fase, pragas da vagem são a maior preocupação.

Percevejos em geral, lagarta das vagens e a helicoverpa podem ser um problema nesse estádio fenológico.

Nessa época termina o período crítico de prevenção da interferência das plantas daninhas, sendo que, de V4 até aqui (R6), é importante que haja um controle efetivo com herbicidas.

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade
(Fonte: Kozlowski, 2002)

R7 – Formação das vagens

Neste estádio ocorre a murcha das flores e a formação das primeiras vagens, que irão definir o crescimento em comprimento.

Deficiência hídrica nesta fase induz à queda das vagens novas (canivetinhos) e prejudica a formação de grãos nas vagens, podendo representar perdas de até 68% na produtividade. 

estádios fenológicos de feijão

(Fonte: Embrapa)

R8 – Enchimento das vagens

Esta fase se inicia com o enchimento dos grãos e, consequentemente, do aumento das vagens em volume. 

Ao final desta fase, os grãos perdem a cor verde e mostram as cores características da cultivar.

Inicia-se a queda das folhas, sendo que esse é o momento ideal para a dessecação visando uniformizar e padronizar os grãos.

R9 – Maturação 

Nesta fase as vagens já estão secas e adquirem cor e brilho. Aqui é importante se atentar à aparição de carunchos que prejudicam e desvalorizam o produto durante o armazenamento.

Um dos grandes inimigos climáticos nesse estádio é a chuva, que pode depreciar a qualidade dos grãos e atrasar a colheita. Quando isso ocorre, pode se tornar um problema para a semeadura da próxima safra.

diagnostico de gestao

Conclusão

Conhecer bem os estádios fenológicos do feijão é extremamente importante no manejo da lavoura, já que a partir deles programamos os tratos culturais necessários.

Neste artigo falamos sobre diversas pragas e doenças que, junto com fatores climáticos, podem prejudicar a produtividade do feijão.

Esse é um dos motivos da cultura ser vista como arriscada. Mas, com conhecimento do ciclo da planta, você poderá diminuir os riscos da lavoura para alcançar lucros ao final da safra!

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Em quais estádios fenológicos do feijão você tem mais dificuldade de manejo? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

As principais doenças de culturas de inverno e como combatê-las

Doenças de culturas de inverno podem colocar sua produção a perder. Saiba como identificar as mais recorrentes e todas as recomendações de controle.

As doenças são um grande problema na lavoura, podendo colocar toda a produção a perder.

Por isso, saber identificá-las e fazer o manejo correto é essencial para garantir uma boa colheita.

Neste artigo vamos mostrar as principais doenças de culturas de inverno, como oídio, ferrugem e mancha foliar, quais suas características e as formas de controle mais recomendadas. Confira a seguir!

Importância e opções das culturas de inverno para sua propriedade

As culturas de inverno são uma ótima opção para aumentar a renda após o cultivo de verão ou mesmo diversificar as culturas agrícolas na propriedade.

Segundo a Conab, há estimativa de crescimento de 11,8% na área a ser plantada com culturas de inverno (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale) na safra 2020. 

Para escolher o melhor plantio no inverno, considere a oportunidade da cultura agrícola na sua região, ponderando a parte econômica (venda e renda) e também as condições climáticas. 

Algumas opções de culturas de inverno são:

Nos próximos tópicos vamos mostras as principais doenças de algumas dessas culturas e as medidas de controle mais recomendadas.

Milho, sorgo e feijão também são considerados culturas de inverno, mas sobre as doenças desses cultivos preparamos um texto específico que você pode conferir aqui!

Doenças de culturas de inverno: trigo

Ferrugem comum das folhas do trigo

Causada pelo fungo Puccinia triticina, é considerada a doença mais comum na cultura, ocorrendo em grande parte das regiões produtoras de trigo no Brasil. Relatos já mostraram perdas de até 50% na produtividade em estados da região Sul do país.

A doença pode se manifestar em todas as fases do ciclo da cultura. Seus sintomas são pequenos pontos arredondados de coloração alaranjada (pústulas), principalmente na parte superior das folhas.

Ferrugem da folha (Puccinia recondita f.sp. tritici)

(Fonte: Agrolink)

Controle da ferrugem da folha do trigo:

  • controle genético;
  • rotação de culturas;
  • eliminação de plantas voluntárias;
  • controle químico (fungicidas).

Helmintosporiose

A helmintosporiose ou mancha marrom causada pelo fungo Bipolaris sorokiniana é comum nas regiões mais quentes de cultivo do trigo.

Nas folhas, os sintomas são lesões elípticas de coloração cinza (regiões mais quentes). Nas regiões mais frias, a doença causa lesões retangulares e escuras nas folhas.

Mas esse fungo pode infectar qualquer órgão das plantas de trigo e como fonte de inóculo do fungo são considerados restos culturais e sementes.

Medidas de manejo para helmintosporiose são:

  • uso de sementes sadias e com tratamento de sementes;
  • rotação de culturas;
  • controle químico (mistura de triazóis e estrobilurinas).

Giberela 

A giberela é causada pelo fungo Fusarium graminearum, sendo mais frequente em regiões quentes. Este fungo pode sobreviver em restos culturais e em sementes.  

A doença é considerada o principal problema que afeta as espigas de lavouras de trigo, cevada e triticale no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e região centro-sul do Paraná.

Além das perdas em rendimento, pode ocorrer a presença de micotoxinas, substância tóxica produzida pelo fungo.

O fungo infecta a flor, causando sua morte. Caso consigam se desenvolver, os grãos ficam enrugados, chochos e de coloração rosa. 

Como sintomas da doença, você pode notar que as aristas de espiguetas infectadas se desviam do sentido não infectadas. Posteriormente, aristas e espiguetas adquirem coloração esbranquiçada ou cor de palha.

Maria Imaculada Lima - Giberela em trigo

(Fonte: Maria Imaculada Lima em Embrapa)

A doença é de difícil controle, por isso, algumas medidas de manejo para giberela são:

  • aplicação de fungicidas após início da floração;
  • semeaduras antecipadas.

Mancha amarela

Esta doença é mais facilmente encontrada em locais de plantio direto com monocultura. É uma das manchas mais importantes para a cultura e pode causar perdas de 50% no trigo e também na cevada.

A mancha amarela é causada pelo fungo Drechslera tritici-repentis que, nas plantas de trigo, pode causar sintomas de pequenas manchas cloróticas, que evoluem e se expandem para manchas de cor palha, circundadas com halo amarelo.

doenças de culturas de inverno

(Fonte: Flávio Santana em Embrapa)

Algumas medidas de manejo para esta doença são:

  • tratamento de sementes com fungicidas;
  • rotação de culturas; 
  • fungicidas;
  • eliminação de plantas voluntárias.

Septoriose

Também chamada de mancha da gluma, é causada pelo fungo Stagonospora nodorum, que pode sobreviver em restos culturais e sementes.

Como sintomas, nas folhas podem ser observadas lesões elípticas de aspecto aquoso, que após algum tempo se tornam secas e de coloração parda.

São medidas de manejo para septoriose:

  • tratamento de sementes com fungicidas;
  • rotação de culturas;
  • controle químico.

Brusone

A brusone ou branqueamento da espiga é causada pelo fungo Pyricularia grisea, sendo também uma das doenças mais importantes na cultura do arroz

Alguns sintomas da doença são espigas de coloração branca e, no local de penetração do fungo, causa a morte acima desse ponto de penetração.

Como a giberela, a brusone é de difícil controle. Assim, uma medida recomendada é o plantio precoce da cultura de trigo.

Oídio

O oídio tem como agente causal o Blumeria graminis f. sp. tritici, que pode gerar até 60% de perdas na cultura.

Você pode observar nas folhas uma coloração branca com aspecto de pó. Os tecidos atacados apresentam coloração amarela e acabam morrendo. As plantas atacadas apresentam menor vigor, redução do número de espigas e peso dos grãos.

Leila Costamilan - Sintomas de oídio em plantas de trigo

(Fonte: Leila Costamilan em Embrapa)

Algumas medidas de manejo para oídio são:

  • cultivares resistentes;
  • pulverização com fungicidas.

Doenças de culturas de inverno: aveia

Ferrugem da folha

É considerada a doença mais comum na cultura, causada pelo fungo Puccinia coronata f. sp. avenae.

Os sintomas incluem pontos pequenos e ovais de coloração alaranjada (pústulas). Com o progresso da doença, as pústulas podem se tornar mais escuras.

Ferrugem da folha (Puccinia coronata var. avenae)

(Fonte: Agrolink)

Algumas medidas de manejo para a doença são:

  • uso de fungicida;
  • eliminação de plantas voluntárias com sintomas;
  • resistência genética.

Mancha do halo amarelo

Esta doença ocorre em todos os locais de cultivo da cultura da aveia, sendo causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. coronafaciens. É considerada a segunda doença mais importante da cultura.

Aparece em folhas novas, com manchas cloróticas, com halo verde-claro a amarelado. Essas manchas podem tomar toda folha e matar o tecido. Também ocorrem sintomas no colmo e bainha.

Medidas de manejo para a doença são:

  • rotação de culturas;
  • sementes sadias.

Helmintosporiose

Essa doença, causada pelo fungo Drechslera avenae, traz dano principalmente quando há chuvas frequentes antes da colheita. Isso prejudica os grãos, que ficam escuros e perdem a qualidade.

Como sintomas ocorrem manchas largas de coloração marrom ou roxa, podendo necrosar o limbo foliar. Pode atacar também os grãos ou sementes.

Algumas medidas de manejo são:

  • eliminação de plantas voluntárias;
  • rotação de culturas;
  • sementes sadias;
  • fungicidas nos órgãos aéreos da planta. 

Doenças de culturas de inverno: girassol

Mofo-branco

O mofo-branco ou podridão branca é causado por Sclerotinia sclerotiorum, sendo considerado o fungo mais importante na cultura do girassol.

Se o fungo atacar na fase de plântula, pode ocasionar a morte e provocar falhas no estande. Mas pode haver outros tipos de sintomas conforme a parte atacada: basal, mediana e capítulo.

Na basal (do estádio de plântula até a maturação), o mofo-branco pode ocasionar a murcha da planta e lesão marrom, mole e com aspecto de encharcada. Se houver alta umidade, a lesão pode ficar coberta por um micélio branco. Além disso, podem ser encontrados escleródios nas áreas afetadas.

Já na porção mediana da planta, que ocorre a partir do estádio vegetativo, os sintomas são parecidos com os da infecção basal. Escleródios podem ocorrer dentro e fora da haste.

E no capítulo, que ocorre a partir da floração, inicialmente observam-se lesões pardas e encharcadas no capítulo, tendo a presença do micélio cobrindo algumas de suas partes. 

Com o progresso da doença, pode-se encontrar muitos escleródios no interior do capítulo. O fungo pode destruir essa estrutura floral.

doenças de culturas de inverno

Sintomas do mofo-branco no capítulo do girassol
(Fonte: Aguiar, R; Sampaio, J; Boniatti, P.  em IFMT)

Algumas medidas de manejo para a doença são:

  • rotação de culturas;
  • época de semeadura.

Mancha de alternaria

Doença causada por Alternaria helianthi, sendo considerada a mais comum em regiões subtropicais úmidas.

A doença pode causar necrose nas folhas, podendo ocasionar morte das células e desfolha precoce.

Inicialmente você pode observar pequenos pontos necróticos castanhos nas folhas, com halo clorótico. Com o progresso da doença, pode haver círculos concêntricos, semelhante a um alvo, que pode progredir para necrose e desfolha.

Algumas medidas de manejo são:

  • controle genético;
  • rotação de culturas;
  • escolha da época de semeadura;
  • densidade de semeadura correta para não apresentar microclima favorável.

Doenças de culturas de inverno: cevada

Mancha reticular 

A doença é causada pelo fungo Drechslera teres, considerada a principal doença da cultura de cevada.

Nas folhas com ataque deste fungo ocorrem manchas ou estrias marrons, formando rede de tecido necrosado, com halo amarelo.

Mancha angular (Drechslera teres)

(Fonte: Agrolink)

Algumas medidas de controle são:

Nanismo amarelo da cevada

Esta virose ocorre em aveia, cevada e trigo causada pelo vírus BYDV, tendo como vetor afídeos.

Como sintoma, você pode observar nas folhas mais novas manchas cloróticas, de amarelada até arroxeada.

Como medida de manejo da doença são recomendados: 

  • controle químico ou biológico do vetor; 
  • tratamento de sementes.

Para te auxiliar com a prescrição de medidas de manejo para as doenças de culturas de inverno procure um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

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Conclusão 

Culturas de inverno são uma opção para aumentar a rentabilidade e diversificar as culturas na fazenda após a safra de verão.

Neste artigo, apontamos as doenças mais recorrentes nos cultivos de trigo, aveia, girassol e cevada. 

Falamos sobre os sintomas de cada uma delas e também sobre as medidas mais efetivas de controle.

Agora que você já sabe como fazer o melhor manejo de doenças nas culturas de inverno, espero que você consiga alcançar uma boa produtividade e lucro na sua safra de inverno!

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Você tem problemas com doenças de culturas de inverno na sua propriedade? Como realiza o manejo? Adoraria ver seu comentário abaixo.