A crotalária é uma leguminosa que pode reduzir até 80% dos nematoides da lavoura. Ela também é muito utilizada em adubação verde, e apresenta vários benefícios para a lavoura.
Muitos produtores já têm aderido à planta, e conhecer todos os detalhes é essencial para você decidir se ela é válida no seu campo.
Nesse artigo, você verá tudo sobre essa leguminosa, desde os manejos recomendados até os benefícios que ela proporciona. Acompanhe a leitura!
O que é e para que serve a crotalária?
A crotalária é uma leguminosa da família Fabaceae que possui diversas espécies. Muito usada para adubação verde, ela tem rápido crescimento e sistema radicular pivotante.
Isso significa que sua raíz penetra verticalmente o solo, favorecendo a absorção de nutrientes.
A crotalária controla nematoides de solo, e também é excelente na fixação biológica de nitrogênio. A consequência disso é você precisar usar menos adubos nitrogenados na cultura.
Além disso, a leguminosa é uma espécie de clima tropical, com ciclo dura de 170 a 180 dias, resistindo bem à seca e a altas temperaturas.
Quando plantar crotalária?
O plantio da crotalária ocorre entre os meses de outubro e novembro, durante a primavera.
Para a crotalária spectabilis, porém, a época de plantio é diferente: caso opte por essa espécie, plante entre outubro e março.
Você pode fazer a lanço ou em linhas, e preparar o solo como se fosse cultivar cana-de-açúcar. O comportamento dessas espécies é parecido. Além disso, o cultivo pode ser solteiro ou em consórcio com gramíneas forrageiras.
Como fazer o plantio de crotalária?
A crotalária é uma planta com múltiplas funções na agricultura: além de ser uma ótima opção de adubo verde, também auxilia no controle de nematoides, melhora a estrutura do solo e contribui para a fixação de nitrogênio.
Por isso, vem ganhando espaço nas estratégias de rotação e cobertura do solo em diversas regiões do Brasil. Mas, para isso, é preciso fazer o plantio correto. Confira o passo a passo a seguir:
1. Espaçamento e profundidade
O espaçamento ideal para a crotalária é entre 25 cm a 50 cm, com profundidade de semeadura de 2 cm a 3 cm.
É importante distribuir entre 25 e 30 sementes por metro linear, e não irrigar em excesso, porque a cultura se adapta bem a solos arenosos e mais secos.
2. Controle de doenças
As principais doenças que ocorrem na crotalária são a antracnose, murcha vascular, podridão da haste e oídio.
Essas doenças podem comprometer muito o desenvolvimento da cultura. O mais recomendado para reduzir as doenças é o controle químico, sobretudo com fungicidas.
É importante ressaltar que cada uma dessas doenças é causada por um fungo diferente. Escolha o fungicida com base na doença presente na sua cultura para garantir um controle efetivo.
3. Controle de pragas
A lagarta-das-crotalárias (Utetheisa ornatrix) é a principal praga que ataca essa leguminosa, que costuma ser presente na fase de inflorescência e nas vagens da planta.
Se você pretende utilizar as sementes da crotalária, faça uso de inseticidas com ação de contato. Os fisiológicos também funcionam nesses casos.
Esta lagarta pode reduzir a área foliar e prejudicar a produção de sementes. A melhor forma de combate é o manejo com inseticidas a partir do momento em que você notar a presença na cultura.

Quais são os tipos de crotalária?
Existem três tipos principais de crotalárias: Ochroleuca, Juncea e Spectabilis, cada uma com características e cuidados específicos. Confira mais informações:
1. Crotalaria ochroleuca
Esta é considerada a leguminosa mais eficiente na redução da população de nematoides. Além disso, o sistema radicular dessa espécie é agressivo, melhorando muito a qualidade física do solo.
As especificidades mais importantes dessa espécie são:
- Época de plantio ideal de setembro a dezembro em grande parte do Brasil.
- Para semeadura a lanço, são recomendados 8kg/ha.
- A fixação biológica de nitrogênio varia de 200 kg/ha a 300 kg/ha.
2. Crotalaria juncea
A crotalária juncea é uma espécie de clima tropical, que mais produz biomassa e contribui para o sistema de produção, melhorando a matéria orgânica e a microbiota do solo.
Essa espécie ficou bem famosa pelo combate à dengue, atraindo libélulas que são predadoras do mosquito transmissor da doença. As especificidades dessa espécie são:
- Época de plantio ideal de setembro a março em grande parte do Brasil;
- Para semeadura a lanço, são recomendados cerca de 30 kg/ha;
- A floração plena dessa espécie ocorre entre 107 e 157 dias;
- A altura da planta pode passar de 2 metros;
- Suas raízes têm grande comprimento (cerca de 50 cm);
- A espécie faz fixação biológica de nitrogênio entre 300 kg/ha e 450 kg/ha.
3. Crotalaria spectabilis
As sementes do tipo spectabilis contêm quantidades abundantes de proteínas. As principais são peroxidases, proteases cisteínicas e inibidores de proteases cisteínicas.
Essas substâncias são significativas na redução de populações de nematoide das lesões (P. brachyurus) e pesquisas comprovaram seu potencial no controle do nematoide de cistos.
A Crotalária spectabilis também características que devem consideradas no momento do planejamento do cultivo. Como:
- Época de plantio vai de outubro a novembro em grande parte do Brasil;
- Para a semeadura a lanço, são recomendáveis cerca de 15 kg/ha;
- Fixação biológica de nitrogênio entre 100 kg/ha e 150 kg/ha.
Como a crotalária combate o mosquito da dengue?
A crotalária, especialmente a espécie Crotalaria juncea, contribui para o combate ao mosquito da dengue de forma indireta, mas eficaz, por meio do controle biológico.
As flores atraem libélulas, que são predadoras naturais do Aedes aegypti. As libélulas adultas se alimentam dos mosquitos adultos, enquanto suas larvas vivem em ambientes aquáticos e consomem as larvas do mosquito da dengue.
Dessa forma, o plantio de crotalária ajuda a criar um ambiente propício à presença das libélulas, reduzindo naturalmente a população do vetor da dengue, zika e chikungunya, sem precisar de produtos químicos.
Quais os benefícios da crotalária?
A crotalária pode ser uma ótima opção para a lavoura, promovendo a adubação verde, o controle de nematoides e a recuperação do solo.
A leguminosa ainda pode ser uma forte aliada no controle de plantas daninhas, á que seu crescimento rápido e cobertura densa do solo dificultam o desenvolvimento de espécies invasoras.
Seu uso também favorece a biodiversidade do solo, melhora a estrutura física e aumenta a retenção de água, além ser eficaz para:
1. Controle de nematoides
As crotalárias têm a capacidade de produzir compostos alelopáticos (tóxicos) que impedem a movimentação dos nematoides.
Elas atuam como plantas armadilhas, fazendo com que os nematoides não consigam completar seu ciclo até a vida adulta.
O ideal é entrar na entressafra com a cultura. Somente a sua palhada, em um sistema de plantio direto, já tem contribuição enorme no controle de nematoides do solo.
Uma pesquisa realizada pela Unesp mostrou a possibilidade de fazer consórcio entre milho safra e safrinha com Crotalaria spectabilis. Houveram bons resultados de produtividade do milho e acúmulo de palhada sem a necessidade de uso de herbicidas.
É fundamental que você saiba qual nematoide está presente em sua área. Só então é possível determinar qual tipo de crotalária será mais eficaz no controle.
- Controle do nematoide das lesões radiculares: é indicado o uso de qualquer crotalária;
- Controle de nematoide do cisto: é indicado o uso de qualquer crotalária;
- Controle do nematoides de galhas: é indicada a rotação das crotalárias C. spectabilis e C. breviflora.
- Controle do nematoide das galhas do algodão: a indicação é utilizar qualquer uma das crotalárias, mas evitar o plantio de milho.
Outro ponto importante é o monitoramento. Sem ele, você até pode reduzir a população de nematoides, mas garante as pragas (como lagartas) para a próxima safra.

Experimento conduzido em Taquaruçu do Sul, RS
(Fonte: Arquivo pessoal)
2. Recuperação do solo
Muito além do controle de pragas, a crotalária também contribui para a saúde do solo.
Seu cultivo ajuda a recuperar áreas degradadas, melhorar a estrutura física do solo e prepará-lo para as próximas culturas. Confira mais alguns impactos positivos:
- Proteção do solo e diminuição dos riscos de erosão;
- Minimiza os danos causados pelo uso intensivo do solo;
- Melhora a infiltração e retenção de água no solo;
- Maior disponibilidade de nutrientes;
- Raízes profundas que auxiliam na descompactação do solo;
3. Controle de plantas daninhas
A crotalária é uma excelente opção no controle de plantas daninhas. Quando utilizada como cobertura do solo e adubação verde, reduz a incidência de invasoras ao manter o solo coberto durante a entressafra.
Seu crescimento rápido e denso dificulta a entrada de luz e o desenvolvimento das sementes de plantas daninhas, ajudando a manter a área mais limpa para o próximo cultivo.

4. Aumento da produtividade da lavoura
As crotalárias são grandes aliadas para o aumento da produtividade das lavouras. O uso da crotalária durante a entressafra favorece a manutenção da matéria orgânica e a atividade dos microrganismos do solo.
Se você precisa produzir muita matéria orgânica em pouco tempo, pode apostar na crotalária. Além disso, essa leguminosa reduz a aplicação de fertilizantes nitrogenados no solo.
5. Consórcio de gramíneas forrageiras com crotalária
A crotalária consorciada com gramíneas forrageiras é uma alternativa de baixo custo para produção de palha. Isso tanto em quantidade quanto em qualidade.
Além disso, as crotalárias podem fornecer nitrogênio ao solo, via fixação biológica de nitrogênio. Dependendo da crotalária cultivada, há possibilidade de pastejo nos sistemas integrados.
O consórcio de crotalária com gramíneas forrageiras aumenta a produtividade de grãos da soja cultivada em sucessão. Isso acontece porque a rápida decomposição dos resíduos vegetais das crotalárias oferece nutrientes ao solo em curto prazo.
O consórcio de gramíneas forrageiras com crotalárias é uma alternativa para produção de biomassa em quantidade e qualidade.
6. Adubação verde
Os adubos verdes são bem conhecidos pela capacidade de fixar nitrogênio.
Eles fornecem grande volume de matéria orgânica. Esse volume aumenta a atividade biológica do solo e contribui com o sistema de plantio direto.
Outra vantagem é o aumento dos inimigos naturais de nematoides parasitas de plantas. Um grande exemplo são os fungos que capturam nematoides ou se alimentam de seus ovos.
A adubação verde também contribui para a liberação de ácidos graxos voláteis pelas plantas. Essa substância pode ser muito tóxica aos nematoides.